quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lívia Pereira - Professora de língua portuguesa

Lívia Pereira, 22 anos - professora de língua portuguesa das redes estadual e municipal de Nova Iguaçu - comenta sobre o espetáculo “A noite que ele não veio”, apresentado no dia 28 de maio pelo ‘Projeto Mostra Colisão’, confira abaixo: 

Foto do espetáculo teatral "A noite que ele não veio"
“A primeira coisa que me encantou foi o cenário da peça, em seguida, os artistas imóveis no palco transmitiam uma sensação um tanto intrigante. O espetáculo foi completo, nada hipocritamente falando. Se a intenção era agradar ao público, falo por mim quando digo que me agradou profundamente. Há tempos não assistia a uma peça que me preenchesse de tal forma.” 

Opinião de Lívia sobre o debate após o espetáculo: 

“A ideia do debate é interessante, pois é um momento em que tomamos parte dos bastidores, entende-se melhor o processo de criação. Quanto aos debatedores, creio que alguns comentários sejam totalmente desnecessários. Fica a sensação de que não se tem muito a dizer, então, fala-se além do que é de fato real. Alguns foram sucintos em seus comentários, declarando-se com total sutileza, sendo que houve uma crítica que me fez levantar de onde estava e ir embora, devido a total empatia que senti a ponto de me fazer sentir vergonha do que estava falando. O que vem a ser "contundência" afinal? Um grupo com poucos recursos e muita vontade! Isso é ambicionar e conseguir alcançar objetivos! Amei a inclusão da tecnologia no espetáculo até porque estamos vivendo uma era totalmente voltada à tecnologia e se ficaria melhor no "mano a mano", ao vivo, "cara e coragem"... bom, isso eles fizeram bem demais também. Concluindo, parabéns ao Nós da Baixada. Parabéns!"

terça-feira, 31 de maio de 2011

Eles comentam - 'A dama da noite'

Após todos os espetáculos três profissionais com experiência no campo artístico e cultural, que tem trabalho reconhecido nessa área, irão comentar sobre o espetáculo e dar seus 'pitacos'. Neste, Wilson Belém, Marcia Valeria e Breno Sanches, comentam sobre o ultimo/nono espetáculo exibido no colisão teatral: "A dama da noite".

Breno Sanches

“Eu fico louco para ver ele se dilacerando aos poucos, mas ele já chega dilacerado” - Comentou a presença da roda no texto, da roda no cenário, mas sentiu falta dela mais presente no espetáculo. “Tem uma coisa que ele entra por essa roda e ali dentro está sustento, preso na roda, e ele fala o tempo inteiro dessa roda, e acho que sinto falta dessa roda no espetáculo”, disse. O personagem vem em um tom de questionamento, ele se revela muito. Uma pessoa querendo se colocar para fora. “Eu fico louco para ver ele se dilacerando aos poucos, mas ele já chega dilacerado”, comentou. Uma das questões que o intrigou foi o personagem ficar muito mais tempo sentado, que ter movimentação dentro da roda cênica criada pelo cenário. “Ele fica noventa e tantos por cento sentados, e ele fica muito tempo ali, ele é uma pessoa que está tentando se encontrar, então senti falta de uma acelerada”, finalizou.

Marcia Valeria

“Só ajuda e complementam, além de me presentearem nesta noite” - “Fui tomada pelo espetáculo”, iniciou Marcia. Comentou que o espetáculo tem uma boa direção e encenação. “Quando eu via a jaqueta, pensei – ‘Essa jaqueta não combina com esse boy’ – Mas depois que ele pede a jaqueta de volta, eu pensei – ‘Perfeito’”, disse. Algumas coisas lhe chamaram atenção, e como ela mesma disse: “Sou virginiana, muito detalhista”, brincou.
1º Luz – “Ela acaba tirando a tonalidade das rosas vermelhas do cenário, tirando a cor delas”.
2º Presença do ator Marcos Zandonai – “Eu preferia ter visto nos olhos dele, e não ter que virar para trás e perceber um outro ator, que no casaco falta um botão. Ou coloca um botão, ou tira esse cara. Queria ter ficado com a impressão de ter visto nos olhos do personagem, uma coisa que o espetáculo não me deixou”.
3º Figurino – “Acho o figurino bárbaro, devido ter a brutalidade da bota, e a suavidade da renda, mas o brilho da echarpe é indispensável. O tecido e o alongamento dele, ficam perfeito, mas não precisa do brilho”.   
Aplaudiu a direção, atuação, cenário e figurino. Praticamente o espetáculo todo, sendo ela apenas plateia e não debatedora, pois o mesmo conseguiu a envolver. “Só ajuda e complementam, além de me presentearem nesta noite”, finalizou.

Wilson Belém

“Fico pensando no olhar de hoje” - “Não pegar o cara pelo impacto, pelo choque, e sim, pegar pela delicadeza”, disse, sendo essa uma das coisas que ajudam no espetáculo. A solução de luz ficou completamente coerente quando se fala de morte. “Esse tema da morte trazida pela visibilidade do surgimento da aids – como retrata no conto de Caio Fernando Abreu – vincula morte e amor de tal forma que a doença acabou adquirindo uma coisa simbólica”, contou. O espetáculo traz e cria esse texto que é belíssimo, falando de uma ultima geração que teve uma crença, uma ideologia. Há um dialogo entre a geração de 80 e 90, a mesma do autor do conto, Caio, com essa nova geração. “Fico pensando no olhar de hoje; Em alguns momentos eu senti falta desse olhar de hoje sobre essas duas gerações”, comentou. Com emoção na palavra, o desempenho do ator José de Brito emocionante. “Fico pensando em será que hoje não seria interessante pensar num certo distanciado? Esse olhar de hoje sobre essas duas gerações”, insistiu ele. Reparou em algumas ações pertinentes e ações físicas. “Tem horas que está no limite e chega a hora da não ação, deixando a palavra ganhar o corpo, com um olhar cínico, com amor e com as relações”, finalizou. 

Trabalhando com contos


29 de maio, domingo. Ultimo dia de colisão teatral e nada melhor que encerrar esse período com a apresentação do espetáculo teatral ‘A dama da noite’, da Cia. Nau dos loucos. A peça conta a história de uma personagem e sua vida solitária. Um monólogo que retrata essa personagem presa em uma roda hipócrita, como diz a mesma. O que não passa da sociedade cheia de preconceitos e pré-conceitos. Baseado no conto ‘A dama da noite’, de Caio Fernando Abreu, é um texto que relata a morte vista pelo surgimento do vírus HIV, vinculando o amor e a morte a partir da solidão de uma personagem.

A companhia existe há oito anos, desde 2003, trabalhando sempre com contos. Começou com uma pesquisa sobre o conto ‘A metamorfose’, do alemão Franz Kafka. Na época, ao estudar o conto, montamos o espetáculo teatral ‘Uma metamorfose – Contos Kafkianos’ com quatro atores”, disse Marcos Covask, diretor do espetáculo, revelando a preferência da Cia. em trabalhar com poucos atores. Em seguida tentaram uma adaptação do texto “Fim de Partida”, de Samuel Beckett, rompendo a idéia de trabalhar somente com contos. “Embora ‘fim de partida’ não ter se tornado em um espetáculo, passou ser um caminho de percurso”, contou.

Em 2008, iniciou o processo de avaliação do conto ‘dama da noite’, de Caio Fernando Abreu. Um texto que não foi criado para teatro e que por muitas vezes foi adaptado para o mesmo. A companhia sempre trabalhando com o mínimo de atores possíveis resolveu ousar e criar um monólogo. “Queríamos trazer esse texto para a luz dos nossos dias, pois interessava para gente o que ele tinha de chocante, ao abordar a solidão focando nesta característica, não importando se o personagem é homem, mulher ou travesti”, disse Covask. O interessante do espetáculo não é quem é o personagem, e sim o que ele tem a dizer.

Quando José de Brito, ator do monólogo, viu o conto pela primeira vez, não quis falar sobre a proposta do texto, e relatou não ter gostado. “Somente quando fui lendo novamente que reparei o que estava por trás do texto, o que não é óbvio”, contou Brito. A partir disso ele começou a gostar do conto, e foi fazer o que eu acho que é o personagem. Sabia que havia várias adaptações do conto, porém não queria basear em cima delas, e sim, no que ele achava que seria. “Os ensaios foram na minha casa, onde foram feitas, em cima da mesa, as marcações; A partir da leitura conseguimos visualizar um espetáculo”, disse Brito.

Cada coisa foi planejada minimamente: As cartas do baralho, os fetos no cenário, e entre outras coisas. As cartas surgiram por que como foram usados objetos cênicos vindos da mesa em que Brito ensaiava, que ele tinha em seu alcance, ele tinha baralho. “Na mesa da casa dele ficamos com a referência de quem tem sorte no amor, tem azar no jogo, devido a isso achamos legal usar”, contou Covask. Uma coisa muito presente no personagem é a fala dele sobre a morte, e foi assim que surgiram os fetos no cenário. “Queríamos de maneira retratar esteticamente essa morte, e com isso foi surgindo concepções dos corpos bebes plastificados, dando a ideia de um feto, das pessoas ali mortas nos hospitais em potes de vidro”, comentou. Retratando não só a morte física, mas dos desejos, mas dos anseios.

O espetáculo já foi apresentado num total de oito vezes. O cenário é composto por umas rosas e fetos pendurados, o que mostra um pouco o delírio, a fantasia. “É um espetáculo que na nossa cabeça ainda está em processo, pois para mim, esse processo não se conclui enquanto não passarmos por uma experiência de temporada”, revelou Brito. Algumas coisas bastante pessoais fizeram com que Brito encenasse o texto, aliás, uma bela encenação. “Para eu fazer um texto tem que me afetar, pois se não me afeta, não afetará o outro”, afirmou, sintetizando que a simplicidade de determinadas coisas que lhe tocou. 

Eles comentam - 'A noite que ele não veio'

Após todos os espetáculos três profissionais com experiência no campo artístico e cultural, que tem trabalho reconhecido nessa área, irão comentar sobre o espetáculo e dar seus 'pitacos'. Neste, Paulo Marcos de Carvalho, Caique Botkay e Breno Sanches, comentam sobre o oitavo espetáculo exibido no colisão teatral, dia 26 de maio: "A noite que ele não veio".

Caique Botkay

"Gosto da ousadia, mas eu queria ter conhecido mais vocês, pois conheci um experimento(...)" - Achou muito curioso um elenco muito jovem fazer um tratamento, apresentado pelo espetáculo, com essa temática, a morte. “Durante o espetáculo eu cheguei a me perguntar se falavam sobre perda ou se falavam sobre um triângulo amoroso, fiquei querendo entender a temática do espetáculo”, disse. Relatou que o rompimento do tempo, misturando o presente, o passado e o futuro é uma coisa muito interessante e gostou da música ao vivo presente no espetáculo. Comentou sobre a ditadura militar, um período que acompanhou de perto, vivenciando: “Precisávamos de alegorias para representar o nosso sentimento em frente à ditadura, pois não podíamos falar com a clareza como se diz hoje”, afirmou. Uma das coisas que o incomodou, foi saber a opinião dos jovens, o que eles acham sobre o que estavam falando. “Teatro é transformação o tempo inteiro; Gosto da ousadia, mas eu queria ter conhecido mais vocês, pois conheci um experimento, um processo de trabalho, mas ainda não tive a oportunidade de entender vocês”. Por fim, revelou querer ver os mesmos jovens em um próximo espetáculo contando um pouco da realidade de cada um. “Eu senti falta um pouco da voz de vocês, e acho que vocês se dedicaram a uma determinada linguagem, cheios de vontade de fazer teatro, de garra, e eu queria ouvir a opinião de cada um sobre o espetáculo, pois a peça para mim ficou num universo flutuante, e não consegui visualizar qual era a intenção, ou proposta, do espetáculo”, concluiu.

Paulo marcos de Carvalho

“Eu fico perdido com tanta projeção no cenário, que acho desnecessária” - “O espetáculo tem uma proposta contundente e ambiciosa, sendo muito bom ver um grupo se arriscando, que de alguma maneira extrapola um lugar comum, daí acho que devemos colocar algumas questões para vocês pensarem”, iniciou. Sua primeira proposta: A questão do trabalho do ator. “Passa-me a impressão que na contundência de vocês, ainda procuram a resposta por que o ator fica no meio do processo”, disse. Ou seja, trabalhar um pouco mais o ator para uma proposta forte de espetáculo. “A direção poderia tirar tudo do espetáculo - o vídeo, o alçapão, a água, tirar tudo – e começar a trabalhar em cima do ator, pois o elenco é bom, mas vocês fazem uma proposta ousada e deixam todos esperando que o ator responda essa proposta, o que não acontece e precisa investir”, aconselhou Paulo, após fazer uma proposta de amadurecimento para o grupo. Sua segunda proposta: O cenário. “Eu fico perdido com tanta projeção no cenário, que acho desnecessária”.

Sua terceira proposta: A projeção audiovisual. “Não percebo muito como necessário, nada contra o high tech (Alta tecnologia), mas tem que ter muita consciência de como vai ser usado, pois acho melhor ver o ator dando voz ao que eu vejo na projeção, do que levar aos meios técnicos”, afirmou. Esses foram o três quesitos que lhe chamaram muita atenção, e sendo assim, comentou com fins de estar contribuindo com o espetáculo. “Vocês falam o tempo inteiro da liberdade, e acho que essa é a questão; Vocês precisam se libertar de um modelo padrão e investir, pois quando tirar tudo do espetáculo (forma que o mesmo deu como experimento), o ator vai aparecer, isso acontecendo, coloca tudo no espetáculo novamente”, finalizou Paulo.

Breno Sanches

"O figurino ficou no meio do caminho, uns mais acabados que outros, mas é algo que tem como resolver" - Entrou na questão do trabalho do ator que, como Paulo, sentiu um desnível muito grade. “O espetáculo é bem colocado, vai fluindo, e tem uma proposta muito boa, mas a cena fica acima dos atores”, disse. Comentou sobre a voz de alguns atores que se perdem, e a de outros que com mais potência acabam ficando desnivelada. Uma das coisas que lhe chamou atenção foi a projeção. “Eu acho melhor os atores fazendo isso e não necessitar do vídeo, pois eles resolvem muito bem pela encenação”, afirmou. Ressaltou sobre o cenário ser muito bem trabalhado e ter um ótimo acabamento, porém o figurino não responde essa expectativa. “O figurino ficou no meio do caminho, uns mais acabados que outros, mas é algo que tem como resolver, parou num caminho, porém no caminho certo”, disse Breno. Falou sobre o mar ser um protagonista no espetáculo, sobre ele levar embora, e trouxer quando ele quiser. “Essa força é muito boa, é muito bonito como espetáculo e na relação humana de vocês, tende muito a crescer, pois é bonito cenicamente”, concluiu.

Falando de forma poética sobre a perda


Neste ultimo sábado, 28 de maio, foi apresentado no Espaço de Cultura Sylvio Monteiro o espetáculo teatral “A noite em que ele não veio”. A apresentação foi pelo ‘Projeto Mostra Colisão’, que contabilizou ao todo nove espetáculos teatrais com oficinas/debates integradas após cada espetáculo. Com um cenário muito bem acabado, o espetáculo teve um belo repertório musical. Amariles (Carla Nunes) estava sempre a esperar por um amor a beira mar, como na noite em que ele, Raul (Madson Vilela), não veio, pois ali, não tinha alma. Um corpo vazio e um amor eterno. Que o mar o traga de volta, mas se não trazer, que junto à leve.

A história se passa no período da ditadura militar. Pescadores presos a uma ilha e contracenando com um protagonista essencial para o espetáculo, o mar. O grupo Nós da Baixada, oriundo do grupo ‘Nós no Morro’ que estabeleceu em 2007 por algumas sedes na Baixada Fluminense, encontra-se no Bairro Cerâmica – Nova Iguaçu. “A apresentação no Colisão Teatral contabiliza a quarta apresentação do grupo, que ainda busca uma identidade para crescer profissionalmente”, disse Anderson Dias, diretor do espetáculo e coordenador do espaço Nós da Baixada desde 2009.

O teatro permite essa construção coletiva, com pessoas tão jovens fazendo um trabalho teatral com seriedade, mostrando a vontade de realmente fazer teatro. O processo de criação do espetáculo teve duração de um ano e três meses. “Começamos pela leitura de ‘Ponto de partida’, do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, onde a partir disso o elenco começou a pesquisar questões dramáticas desse texto para construir um objetivo”, disse Derson, como Anderson é conhecido por todos dentro do grupo.

“Nada surge do dia pra noite”, disse. Quebrando pedra por pedra para trabalhar com o teatro, o grupo tenta alçar novos vôos. “Desde 2005 temos o patrocínio da petrobrás, mas se não tivéssemos, não seria impossível criar o espetáculo, mas seria muito difícil”, concluiu Derson. Todo o processo foi complicado, conversaram com muitas pessoas para poder enriquecer o trabalho, relatando a questão da omissão ou a não ação de um cidadão no meio que ele vive.

Jessica Meireles e Marcelle Morais foram as autoras do texto. “As duas tem 80 por cento de participação na criação da dramaturgia, mas todos foram participando do projeto dando seus ‘pitacos’ para melhorar o processo”, contou Anderson, exemplificando que Rômulo criou a história de seu personagem. O objetivo do espetáculo é deixar cada espectador pensando no espetáculo e na temática que ele aborda. “Pensamos em um espetáculo e o Derson trouxe e proposta do ‘ponto de partida’, de Guarniere, a partir disso começamos a pensar em contar alguma coisa, passar para a plateia, algo que fizessem vocês pensar, assim como nos fez”, disse Jessica Meireles, que interpretou a personagem Dália.

Inicialmente foram muitos improvisos que geraram algumas cenas ainda presentes no espetáculo. O mar, um protagonista indispensável no espetáculo, foi tratado de forma poética como todo o texto. “Falamos dele como outro ser humano, e a linguagem poética foi uma coisa que fluiu de forma natural”, contou Marcelle Morais, interpretou o Pastor. Além do tipo de linguagem abordada no espetáculo, o mesmo, rompe o espaçamento temporal, juntando presente, passado e futuro. Uma história que relata a perda, o amor e preenche o tablado de mistérios.

Comentários principais sobre o processo de criação e o sentimentalismo, dos mesmos, em relação ao texto:

Ainon, pai de Raul (Thiago Zandonai) – “Quando o texto veio, achamos muito bacana e pesquisamos em todo seu entorno, o que acabou gerando uma bola de neve que a cada dia aumentava mais. Não gosto de personagens dramáticos, pois é uma deficiência minha, mas como ator eu tive que encarar e buscar o que eu tenho de melhor. Senti uma coisa tão paterna e comecei a me colocar no corpo dos parentes que perderam partes de sua família no período da ditadura militar. Fui me envolvendo tanto com meu personagem que coloquei o Raul como se fosse meu filho e eu estivesse sentindo aquela dor. Naquele momento eu ganhei o personagem, ou ele me ganhou”.

Raul (Madson Vilela) – “Para mim, o processo teve início logo quando o Anderson trouxe o texto e começamos a pesquisar tudo, e naquele momento uma coisa me instigou, e ainda é o que mais me instiga ate hoje. ‘Quem eram as pessoas que lutavam pela liberdade e davam a vida pela liberdade do povo? ’, essa era a questão. Até hoje eu pesquiso e minha busca é saber isso, como era essa coisa de peitar o poder, do por que o povo não tinha voz ativa. Meu trabalho é continuo e ainda não consegui finalizar meu personagem”.

Dália (Jessica Meireles) – “Para mim, em relação ao texto, quando começou o processo era muito distante, mas a questão da omissão presente no texto me ganhou e foi sobre isso que eu queria falar. Fui me deparando com omissões de todas as formas presentes na nossa vida, não só a omissão que existe no texto de Guarniere, mas sim, a omissão do amor, de perda. Percebi a covardia do Pastor em não contar o que ele sabe, e percebi o quanto ele foi covarde, porém voltei meu olhar para mim, e percebi o quanto eu sou covarde também. Questionei de que maneira, no momento que eu me calo, eu não dou mais poder aquela mão que bate”.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eles comentam - 'Amargas Horas'

Após todos os espetáculos três profissionais com experiência no campo artístico e cultural, que tem trabalho reconhecido nessa área, irão comentar sobre o espetáculo e dar seus 'pitacos'. Neste, Sanaira D’Ávila, Marcia Valeria e Breno Sanches, comentam sobre o sétimo espetáculo exibido no colisão teatral, dia 26 de maio: "Amargas horas".

Sonaira D'Ávila

“Falta transição de cena, e o conflito é pouco explorado” - Com algumas coisas que são de recursos muito interessantes, o espetáculo tem um conceito logo de início e de fácil percepção, que em sua opinião, se esgota rapidamente por ser muito longo. “Alguns momentos eu vejo que tem uma coreografia, mas os atores não conseguem executar”, disse Sonaira, complementando que há falta de trabalho corporal dos atores. “Para este tipo de espetáculo, tem que ir além, ter um despudor e colocar para fora os ‘demônios’, assumir o corpo”, afirmou. Os demônios que Sonaira diz, é em relação a entregar-se mesmo e mostrar completamente a falta de pudor, já que essa é a proposta do espetáculo. Um dos pontos interessantes é o uso da cinta pela atriz, o que é de fácil percepção que a cinta é da atriz a não de sua personagem. Outro ponto interessante é o uso das cartas de Tarô. “O recurso da carta de tarô é interessante, mas também se esgota rápido, além de ser repetitivo e longo, quase um método didático, explicando o que significa cada carta”, comentou. Isso faz com que a peça perca completamente sua magia. “Falta transição de cena, e o conflito é pouco explorado”, disse. Insistiu na questão do despudor, de não pode ter medo, além de comentar sobre a decadência da personagem, que tem um pouco da decadência faltando na cena. “O espetáculo é ‘maldito’, mas os atores não podem deixar o medo para um tipo de espetáculo como esse, pois acaba sendo contraproducente em relação à história que se conta”, finalizou.

Breno Sanches

“Na parte das cartas, fica muito didático; Explicando o que significa cada carta que viu” - “O início já cansa um pouco!”, opinião feita por todos os debatedores, também reforçada por Breno. “Fica horas na primeira música e nada acontece; Podia entrar na hora da música com todo clima que a música proporciona”, disse. Afirmando gostar de textos do Bertold Brecht, uma coisa que ele achou interessante é a questão futura que ao mesmo tempo dela ser uma cartomante, o foco é muito mais no que ela passou como prostituta do que como cartomante. “Senti falta de saber quem era a pessoa que ela (cartomante) estava conversando, o porquê de a cartomante contar os seus segredos para esta pessoa ao ir comentando a história que ela viveu”, revelou. Sobre as cartas de Tarô, ele também teve a mesma impressão que Sonaira. “Na parte das cartas, fica muito didático; Explicando o que significa cada carta que viu”. Uma confusão ficou intrínsica em Breno: “Tem uns momentos que ela está aqui, eu visualizo a personagem o tempo inteiro, como se ela estivesse no passado e voltado ao presente, e fico meio confuso”, contou. Esta questão, pertinente não só entre os debatedores, mas em toda a plateia, deixou o texto um pouco confuso. “Onde pode haver essa desconstrução e qual a relação dela não esta ali, mesmo o público visualizando que ela está o tempo inteiro?”, indagou.

Marcia Valeria

“(...) Não é necessário assistir três vezes a mesma cena para se entender uma rinha entre dois personagens com o leque” - “Quando o espetáculo começa e demora, penso que trará algo novo, só que não aparece nada novo, e nenhum momento vem à utilidade”, disse. Deu sugestões em alguns figurinos, como: O da morte e da imperatriz. “Uma sugestão é o manto da morte ser maior do que é indo até os pés, cobrindo a cadeira, e o manto da imperatriz, que fica parecendo uma chapeuzinho vermelho, mas é uma impressão que causa, e parece muito melhor que isso”, comentou. Ainda no figurino, sugeriu um sapato que ajude esteticamente. “Devido à demora para abotoar, os sapatos não ajudam, vamos procurar algo que ajude na estética e no equilíbrio na hora de dançar”, sugeriu. Repetições, muita repetição de cena. “Pegue a cena, faça uma síntese de tudo e apresente ‘A cena’, pois não é necessário assistir três vezes a mesma cena para se entender uma rinha entre dois personagens com o leque”, exemplificou. A questão da cinta, muito pertinente, era perceptível que era da atriz e não da personagem. Finalizou comentando sobre o trabalho corporal onde os atores fazem as sombras de cada carta do tarô. “Necessita de preparação corporal para fazer as sombras, para ficar um espetáculo afinado, pois é fácil de perceber que é falta de preparação física e não de recurso técnico”.

O passado nas cartas de tarô

29 de maio, sexta-feira. O espetáculo teatral “Amargas horas” teve sua pré-estreia no “Projeto mostra colisão”. O texto e a direção são do Thiago Morelatto, também ator no espetáculo. O espetáculo é um produto do Projeto Cultural F.A.M.A. (Fábrica de Atores e Material Artístico), uma ONG que trabalha com curso livre de teatro para iniciantes, onde Thiago é um dos professores. 

O espetáculo narra o passado de uma cartomante, que ao estar jogando cartas para uma cliente, vai contando seu passado de quando era uma prostituta. ‘Amargas horas’ conta com quatro pessoas no elenco: A cartomante (personagem principal), a travesti, um cliente assíduo da Mansão, e uma outra prostituta. A peça foi ensaiada no período de dois meses, mas o processo todo foi em um tempo maior. “Comecei a escrever o texto em setembro de 2010, nisso eu passei de dois a três meses indo a bordéis e conversando com prostitutas, travestis, até mesmo alguns clientes”, disse Thiago Morelatto. 

Em fevereiro começou a procura dos atores para os personagens e no ‘Projeto Mostra Colisão’ estão estreando com o espetáculo. “Entramos no colisão com o objetivo de ouvir as críticas para engrandecer o espetáculo”, afirmou Thiago. O espetáculo é ousado, expõe os atores quando encarnados em seus personagens. André Muriarte é o responsável pelas coreografias de todo a peça.

A sombra chinesa acabou atrapalhando um pouco devido algumas formas não ficarem boas. “Pouco tempo para se preparar, e a questão das formas é uma coisa para se corrigir, não era para ser daquele jeito”, contou Morelatto. De acordo com o autor do espetáculo, tudo não se passava de um delírio da personagem principal, sendo muito reforçado na final do espetáculo com a alucinação de estar vendo morte em todas as cartas do baralho cigano. “Critica significa analise e recebemos isso com muito bom grado”, finalizou Alexandre Gomes, presidente do Projeto Cultural F.A.M.A.