29 de maio, domingo. Ultimo
dia de colisão teatral e nada melhor que encerrar esse período com a
apresentação do espetáculo teatral ‘A dama da noite’, da Cia. Nau dos loucos. A
peça conta a história de uma personagem e sua vida solitária. Um monólogo que
retrata essa personagem presa em uma roda hipócrita, como diz a mesma. O que
não passa da sociedade cheia de preconceitos e pré-conceitos. Baseado no conto
‘A dama da noite’, de Caio Fernando Abreu, é um texto que relata a morte vista
pelo surgimento do vírus HIV, vinculando o amor e a morte a partir da solidão
de uma personagem.
A companhia existe há
oito anos, desde 2003, trabalhando sempre com contos. Começou com uma pesquisa sobre o
conto ‘A metamorfose’, do alemão Franz Kafka. “Na época, ao estudar o conto,
montamos o espetáculo teatral ‘Uma metamorfose – Contos Kafkianos’ com quatro
atores”, disse Marcos Covask, diretor do espetáculo, revelando a preferência da
Cia. em trabalhar com poucos atores. Em seguida tentaram uma adaptação do texto
“Fim de Partida”, de Samuel Beckett, rompendo a
idéia de trabalhar somente com contos. “Embora ‘fim de partida’ não ter se tornado em um
espetáculo, passou ser um caminho de percurso”, contou.
Em 2008, iniciou o
processo de avaliação do conto ‘dama da noite’, de Caio Fernando Abreu. Um texto
que não foi criado para teatro e que por muitas vezes foi adaptado para o mesmo.
A companhia sempre trabalhando com o mínimo de atores possíveis resolveu ousar
e criar um monólogo. “Queríamos trazer esse texto para a luz dos nossos dias,
pois interessava para gente o que ele tinha de chocante, ao abordar a solidão
focando nesta característica, não importando se o personagem é homem, mulher ou
travesti”, disse Covask. O interessante do espetáculo não é quem é o
personagem, e sim o que ele tem a dizer.
Quando José de Brito,
ator do monólogo, viu o conto pela primeira vez, não quis falar sobre a
proposta do texto, e relatou não ter gostado. “Somente quando fui lendo
novamente que reparei o que estava por trás do texto, o que não é óbvio”,
contou Brito. A partir disso ele começou a gostar do conto, e foi fazer o que
eu acho que é o personagem. Sabia que havia várias adaptações do conto, porém
não queria basear em cima delas, e sim, no que ele achava que seria. “Os ensaios
foram na minha casa, onde foram feitas, em cima da mesa, as marcações; A partir
da leitura conseguimos visualizar um espetáculo”, disse Brito.
Cada coisa foi planejada minimamente:
As cartas do baralho, os fetos no cenário, e entre outras coisas. As cartas
surgiram por que como foram usados objetos cênicos vindos da mesa em que Brito
ensaiava, que ele tinha em seu alcance, ele tinha baralho. “Na mesa da casa
dele ficamos com a referência de quem tem sorte no amor, tem azar no jogo,
devido a isso achamos legal usar”, contou Covask. Uma coisa muito presente no
personagem é a fala dele sobre a morte, e foi assim que surgiram os fetos no
cenário. “Queríamos de maneira retratar esteticamente essa morte, e com isso
foi surgindo concepções dos corpos bebes plastificados, dando a ideia de um
feto, das pessoas ali mortas nos hospitais em potes de vidro”, comentou. Retratando
não só a morte física, mas dos desejos, mas dos anseios.
O espetáculo já foi
apresentado num total de oito vezes. O cenário é composto por umas rosas e
fetos pendurados, o que mostra um pouco o delírio, a fantasia. “É um espetáculo
que na nossa cabeça ainda está em processo, pois para mim, esse processo não se
conclui enquanto não passarmos por uma experiência de temporada”, revelou Brito.
Algumas coisas bastante pessoais fizeram com que Brito encenasse o texto,
aliás, uma bela encenação. “Para eu fazer um texto tem que me afetar, pois se
não me afeta, não afetará o outro”, afirmou, sintetizando que a simplicidade de
determinadas coisas que lhe tocou.
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