terça-feira, 24 de maio de 2011

Eles comentam – “Sete cabeças”

Elenco da peça, os três debatedores e a produção do evento
Após todos os espetáculos três profissionais com experiência no campo artístico e cultural, que tem trabalho reconhecido nessa área, irão comentar sobre o espetáculo e dar seus 'pitacos'. Neste, Wilson Belém, Martingil Egypto e Caique Botkay, comentam sobre o segundo espetáculo exibido no colisão teatral, dia 22 de maio: "Sete cabeças". 

Wilson Belém

O espetáculo aponta em algum momento para um teatro musical - “Isso é o que o teatro me possibilita de mais fantástico, encontrar grupos assim”, afirmou Wilson Belém. Comentou sobre os atores fazerem um espetáculo muito bom de atuar, com jogadas e brincadeiras em cena, porém com seriedade no trabalho e um nível bom de atuação, além da grande entrega dos atores. “Eu acho que a ideia a partir desse investimento que vemos, que se cria, precisa continuar e apontar um caminho, que eu acho que é o primeiro investimento que o grupo pode fazer, pois já está com uma coisa tão clara, bonita e amadurecida”, disse, fortalecendo que o investimento é um trabalho de texto que tem uma centralidade. Em relação ao trabalho corporal, notou que os atores em cena mostram um corpo entregue, lúdico e plástico, o que também queria que acontecesse e fosse investido no texto. “No falar o texto, pois é uma questão técnica de ter mais fluidez e clareza no mesmo”.



O espetáculo aponta em algum momento para um teatro musical e coreográfico, tendo em vista isso, aconselhou a buscar e investir para estar bem afinado tecnicamente, e fortalecer na voz falada e cantada.  “Em alguns momentos tive dificuldades de ouvir a música e identificá-la, como em outros, eu não consegui saber qual era a palavra falada”, disse. Para ele, é o que tecnicamente faltou, além de uma coisa que puxa para o lado da temática, pois texto confronta alguns conceitos, e em alguns momentos reduplicava um pouco a questão da culpa, do pecado. “Enfim, tudo que isso já trouxe de problemas, essa coisa do pecado e da culpa, às vezes eu acho que o espetáculo reduplica esse sentido”, indagou-se. Comentou por fim sobre o figurino medieval, que lembra um pouco as moralidades.

Caique Botkay

“Gostaria muito de ver o próximo espetáculo desse grupo (...)” - Falou sobre a importância do ponto de partida ser consistente, pois à fomentação de cultura que o grupo Nós no morro fez ao grupo “Códigos de Japeri” contou como ponto positivo para o crescimento e avanço do mesmo. “Fiquei muito engajado com a temática que eu assisti nos espetáculos (referindo ao “Misturando histórias em contos africanos” e o “Sete cabeças”), pois nenhum dos dois espetáculos veio fazer gracinha, e sim, discutir temas que interessam a todos nós”, afirmou Caique. Fez uma avaliação a partir da imaginação de como os jovens chegaram ao início do processo, e como se encontra hoje. “O teatro tem essa capacidade de juntar jovens e discutir temas assim, sem muito moralismo”, disse. Comentou a importância do trabalho coletivo, em relação a cada um ter ido buscar e pesquisar sobre seu personagem, fazendo um espetáculo único, tendo uma unidade.  “Eu acho isso muito emocionante, fora da zona sul e fiquei muito seduzido pela questão do teatro, em relação da dramaturgia”, contou. Deu uma breve pincelada na personagem “Luxuria”, comentando a questão da religião, e sobre a religião abordar todos os pecados, porém que a religiosidade calhou em cima da sexualidade, em cima do que é mais reprimido. “Acho muito bom com investigação, e muito bom como produto; Gostaria muito de ver o próximo espetáculo desse grupo, muito curioso”, finalizou. 

Martingil Egypto

“(...)Mas quando compuseram a carroça, eu falei: Perfeito, pois finalizaram muito bem” - “Eu já quero antecipadamente dizer que esse momento está sendo muito importante para o teatro carioca, o teatro da baixada fluminense, por que estamos assistindo dois espetáculos (comentário feito em relação aos espetáculos do dia 22 de maio) com discussões sérias”, afirmou Martingil. Unidade visual, elemento que Martingil mais repara. No espetáculo comentou sobre a questão das cadeiras e malas, mas não entrou muito no detalhe devido o grupo ter avisado que as cadeiras estavam sendo reformuladas. “Em relação às malas, acho que esta faltando só um pequeno detalhe: merecerem um desgastezinho para incorporar nessa história”, disse. Ele finalizou falando sobre o término do espetáculo. “E inclusive quando o elenco foi lá pra frente, eu pensei que não havia necessidade, mas quando compuseram a carroça, eu falei: Perfeito, pois finalizaram muito bem”.

Um comentário:

wilson belém disse...

O Grupo Código aponta para uma interessante proposta de linguagem, que ora parece fazer uma leitura contemporânea dos Mistérios e Moralidades medievais (através de personagens alegóricos representando os sete pecados capitais), ora nos remete à tradição da comicidade popular, do grotesco, da bufonaria. Tudo conduzido pelo personagem Você, um anti-herói, ao mesmo tempo poeta e filósofo, lúcido e romântico, quase sempre profético, desencantado pessimista.
Dá gosto ver a garra dos jovens atores em cena, a desenvoltura corporal, a entrega ao jogo e o total comprometimento com a proposta da direção.
Porém é necessário que o grupo faça um investimento sério e continuado no trabalho técnico, sobretudo de voz. Trabalho este voltado tanto para a fala (muitas vezes a compreensão do texto é prejudicada pela má articulação vocal) quanto para o canto, já que há muitos momentos musicais e é imprescindível que tudo soe bem e afinado.
Seria interessante também o grupo incluir no seu processo de trabalho o diálogo com outras tradições dramatúrgicas, o que só irá contribuir enriquecendo a sua pesquisa cênica.