segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eles comentam - 'Misturando histórias em contos africanos'

Wilson Belém, Caique Botkay, as atrizes do espetáculo e Martingil Egypto
Após todos os espetáculos três profissionais com experiência no campo artístico e cultural, que tem trabalho reconhecido nessa área, irão comentar sobre o espetáculo e dar seus 'pitacos'. Neste, Wilson Belém, Martingil Egypto e Caique Botkay, comentam sobre o primeiro espetáculo exibido no colisão teatral: "Misturando Histórias em contos africanos". 

Wilson Belém

"Não palavra do poder, mas sim, o poder da palavra" - Ressaltou a importância da tradição oral dos griots que assistiu no espetáculo. Falou brevemente da figura do contador de histórias comparado a um sacerdote, demonstrando a sua influência. “O poder centrado na palavra, eu acredito que às vezes vocês não crêem e por isso cai no recurso de uso de objetos”, disse Wilson, após indagar se é imprescindível o uso dos objetos. Para o mesmo o que faltou foi usar o poder da palavra, não a palavra do poder, mas sim, o poder da palavra. “Quando não tem mais nada, resta palavra, resta memória”, afirmou. Fez também comentários sobre deixar a palavra viver mais no tablado, pensando no espetáculo pelo processo, ou seja, quanto mais vivo, melhor.

Martingil Egypto

“Cenografia é um problema, até mesmo pela falta de recursos” - Colocou questões da história do sol e da lua, um dos contos narrados por griots que as atrizes encenaram, comentando do momento em que deve ser o narrador, e no momento em que é o personagem. “A parte da máscara em frente à face, representando o personagem, e quando a retira volta a ser o narrador; Senti falta dessa preocupação com o narrador e o personagem”, disse Martingil. Proporção de cenário e unidade visual foram os quesitos que, segundo ele, as duas poderiam melhorar no espetáculo. “Como o tema é o continente África, na proporção do cenário colocar umas cabaças e outras coisas, e na unidade visual trabalhar um pouco mais a cenografia”, afirmou. “Cenografia é um problema, até mesmo pela falta de recursos”.

Caique Botkay

“Tudo que é teatro é uma mentira deliciosa” - Começou pelos itens necessários para a criação de um espetáculo teatral que vem desde o figurino, até a parte corporal e iluminação. Comentou sobre as vozes, no sentido da mudança de voz de um personagem para o outro, que em algumas histórias houve e outras não, e das atividades físicas no tablado. “Eu especialmente gosto muito de material cênico, a única coisa que eu senti falta, era distinguir a hora em que era o personagem e quando era o narrador”, disse Caique. Comentou que quando as atrizes estavam com os objetos cênicos, eles em determinadas horas transformava o narrador em personagem, e isso faltou um pouco. “Vocês tem talento de explorar o lado mais teatral, pois acho que vocês podem colocar uma coisa mais solta, porém se preocupam mais em contar as histórias do que encenar”, afirmou. Dar vida ao personagem para se tornar um teatro mais orgânico. “Tudo que é teatro é uma mentira deliciosa”.

Em relação às histórias contadas, ele comentou sobre a boa escolha de assuntos pertinentes, fábulas de conteúdo. Que vem de séculos e séculos do griots, sendo passado pela tradição oral. “Como, também, nossas lendas e nossos contos populares, não foram criados à toa”, comparou. Uma coisa que foi citada era a atenção da platéia, reparada por Caique, além do bom gosto das aves cinza que virão coloridas. “Tudo no lugar certo, mas faltando alguns ajustes”. Uma das dicas dadas foi para as atrizes começarem a se divertir mais no tablado, podendo assim, contar histórias mais soltas. “Para vocês ainda é um pouco tenso, acho que o exagero vai ajudar um pouco” afirmou, ao relatar seu gosto por certo exagero no teatro infantil.

Um comentário:

wilson belém disse...

Espetáculo de Contação de Histórias que revela uma consistente pesquisa sobre a tradição oral do continente africano. Merece destaque a boa seleção de histórias, mitos e lendas, garantindo o interesse da plateia.
É estimulante constatar o esforço da produção em manter vivo o universo dos griots, rapsodos, menestréis, enfim, dos narradores presentes em todos os tempos, em diversas culturas.
O espetáculo alterna a contação com momentos de representação das histórias.
Creio que esta proposta poderá ser potencializada se nos momentos de narração as intérpretes acreditarem mais na eficácia e no poder da palavra, na cumplicidade gerada pelo “olho no olho” com a plateia. Da mesma forma, nos momentos em que os personagens ganham vida é necessário um aprofundamento do trabalho corporal e vocal, uma maior entrega ao jogo cênico.
O uso excessivo de objetos e adereços, muitos deles belos e encantadores, algumas vezes interrompe o fluxo do espetáculo e consequentemente o envolvimento com as histórias. Seria interessante investigar quais desses elementos impõem-se como realmente necessários para a partir de então trabalhar a sua articulação com a cena.
Seria importante também investir num maior diálogo entre estes objetos, o cenário e o figurino que carecem de unidade visual, o que prejudica a constituição de um ambiente mais orgânico e mágico para o revelar-se de tantas belas histórias.